domingo, 9 de março de 2008

Badalhocos e Taralhocos (3)

Há pessoas, certas pessoas, que pensam que porque se vão sujar no trabalho, não vale a pena tomar banho.

Para quê?

Vão-se sujar outra vez. Ainda por cima levam a mesma roupa para a semana toda.

É no sovaco de uma dessas pessoas que o nosso amigo do costume começa o dia...

Hoje, não havia lugares vazios, nem mesmo ao pé da janela, longe da cortina.

Então lá tem ele de ir em pé, bem apertado contra um indivíduo que bem à moda antiga, só usa desodorizante para ir à missa.

E às meninas.

Já têm mais sorte que o Vítor elas. Por isso é que lhe chamam vida fácil, se calhar.

Saído do autocarro, ar fresco finalmente. Durante 5 segundos, porque é hora de entrar no metro e, quem sabe, de conhecer um novo sovaco.

Para aceder ao metro é que é outra complicação. Apesar de a porta de entrada ter 6 metros de largura, apenas um metro e meio está utilizável dado que o restante está ocupado pelos lençóis cheios de DVDs piratas que as ciganas vendem.

À esquina um polícia municipal, a fumar descansado da vida.

É Portugal.


Chegado ao trabalho, 9 ciganas, 4 sovacos, 3 romenas de bebé ao colo e 2 mendigos depois, eis que verdadeiramente começa o dia útil de Vítor.

Não tem nada a perder.

Venha o que vier, ele não se importa.

Não há que fugir às responsabilidades.

O mais provável é ficar na caixa rápida e mesmo que assim não seja, no fim do dia vão-lhe doer as costas.

Tudo bem.

-Bom dia!
-Olá! Como está Vasco?
-Vítor.
-Desculpe, ah ah, estou sempre a trocar o seu nome Vítor.
-Pois…
-Olhe, abra-me a caixa 21 se faz favor.
-Ok.



Neste momento está o caro telespectador a sentir uma sensação mista de surpresa com alívio.

Não vai para a 7! – Concluiu o espectador.

Vamos ver se é assim tão bom…


Atendidos os primeiros clientes, não se fez tardar o bico dobra do dia…

-Bom dia!
-Bom dia.
-É para entregar em casa, pode ser?
-Pode sim, qual é o código postal?
-É já ali na Expo.
-Sim, mas o código postal sabe?
-Eles já têm lá ido muitas vezes…
-Exacto, nós percorremos a cidade toda, mas preciso do código postal, porque é por aí que fazemos as marcações consoante a zona…
-Ah, é o 1900!

(se sabias porque não disseste logo?)

-Quando é que quer receber as compras? Hoje?
-Ah sim, pode ser?
-Pode sim, deixe-me só confirmar… Até às 15h pode ser?
-Ai tão tarde, precisava das coisas para o almoço…
-Pois, é que já é quase meio dia…
-E as coisas chegam bem?
-Sim, chega tudo em condições.
-É que da última vez os tomates chegaram todos esmagados.
-Pois… herr…
-E o peixe chegou todo moído!
-Isso pode ser…
-E as mangas estavam todas tocadas…

(Porra, então porque não levas tu as coisas??)

-Nós vamos ter mais cuidado, vou deixar tudo por cima para não haver problemas…
-E cuidado com os ovos!
-Tudo bem…
-E com as saladas e as alfaces… e as uvas e os hamburgers…
-Sabe, às vezes o problema é que quando são muitas coisas frágeis, algumas têm de ficar mais por baixo…
-Ah mas não têm de ser os tomates!!

(Esquece…)

-E isso chega a horas?
-Sim, em principio sim…
-É que da última vez marcaram-me para as 20h e só me chegaram as compras à uma da manhã.
-Pode ter sido algum atraso pontual…
-Não que as coisas chegam-me sempre atrasadas!

(Mas continuas a cá vir…)

-Os congelados chegam bem?
-Vão já para a arca…
-Veja lá que de vez em quando chega-me já tudo descongelado!
-Muito bem…

(Laralalala…)

-Como é que a senhora vai efectuar o pagamento?
-VISA, pode ser?


(tanta cagança para ficar a dever…)


-Pode sim.


O visor diz “não autorizado”…


-O seu cartão não permite efectuar o pagamento…
-Ah deixe estar, eu pago com cheque…

(he he he!)


O Vitor insere os dados e no visor observa: "cheque pendente".

(Iupi!)

-Ah... então e agora?

Pergunta a aventesma...

-Não sei... diga-me a senhora!

-Ah... posso passar cá mais tarde com o cartão do meu marido?

(Se não estiver sem saldo também, eh eh!)

-Pode sim, nós deixamos-lhe as compras guardadas.

-Então eu já volto...

-Com certeza... boa tarde...



Uma hora depois, tempo de ir almoçar.


Enquanto caminha para a sua refeição em tuperware, Vítor vai pensando para si próprio:

(As ciganas, o tipo que cheira mal, as romenas, a chata da cliente… Todos seres humanos… Gosto mesmo do meu cão…)

Um comentário:

Anônimo disse...

Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu