domingo, 9 de março de 2008

Pessoas ignorantes. (2)

Hoje gostaria de falar um pouco sobre pessoas ignorantes.

Se ignoram do que se trata, digo já:

Somos todos nós!

Até certo ponto, todos nós ignoramos a esmagadora maioria do que compõe o mundo que nos rodeia, mas não é dessas pessoas, onde eu próprio me incluo, que quero falar.

É daqueles autênticos Messias da estupidez que fazem do ser ignorante, um modo de vida!

O chamado "Savoir Ignoraire!"

Façam um teste!

Saiam de casa e entrem em 10 espaços públicos ao calhas e lá façam uma pergunta qualquer a quem vos atender!

9 das 10 pessoas vão-vos dizer que não sabem bem, não foram informados ou que não é o seu departamento.

O pior é que os outros 10% são ainda mais perigosos!

São aqueles que não percebendo nada do que dizem, não o admitem e mesmo assim respondem!

Quantas vezes não pediram indicações de como chegar a certo sítio e a cada esquina nos mandam ir para o sentido contrário aquele que acabaram de nos indicar há um minuto atrás?

Um exemplo mais concreto:

Sabem o que é vinho do porto?

É uma bebida digestiva, que se produz APENAS em Portugal.

Mais propriamente através de castas de uva produzidas no Douro e que são pertença de famílias portuguesas e outras estrangeiras (inglesas, holandesas, etc.) que se fixaram em portugal há muitos anos, por vezes séculos.

Deste vinho há uma classe das mais apreciadas que é o Vintage. Vinho feito a partir de colheitas de anos que foram excepcionalmente bons.

E porquê que estou para aqui a dar esta palestra?

Vejam só:

É de manhã.

Está tudo escuro mas ele sabe que é de manhã.

Porquê?

O vizinho de cima já está a pé e pelos vistos atarefado.

Que o homem tenha problemas intestinais tudo bem.

Escusava era de ir para a casa de banho às 7 da manhã falar com a mulher que por sua vez está na outra ponta da casa.

(Muito tem esta gente para falar, cabrões dos velhos!)

Vítor, sem sono, olha para o despertador.

|6:52|



Por detrás da guedelha que jaz ao seu lado ouve um ligeiro roncar.

Vira-se para o tecto e desata a pensar na vida.

(Porque é que não comprei uma vivenda?)

(Porque é que não tenho pais ricos?)

(Porque é que esta mula não para de ressonar?)

(Porque é que me fui casar?)

(Um gajo lembra-se de cada coisa…)

(Tenho de ir mijar)

(Porque é que um gajo quando vai ao urinol, nas casas de banho públicas, faz sempre apontaria às beatas?)

(E depois quando consegue desfazer uma, pensa: toma lá!)





TIIIIIIIII....

TIIIIIIIIIIIIIII...

TIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII....


TAHH!!!!!



-Irra que já são 7h!!

(Cala-te que ainda acordas o bisonte…)


Mais um dia na inútil vida de Vítor.
Mesmo ritual, mesmo autocarro, mesmo motorista, mesmo lugar, mesmo caminho.
Mesmo emprego.
Ainda permanecem as memórias do dia anterior passado na caixa 7…

(Com o azar que ando ainda me põem na caixa rápida o dia todo como ontem…)

Ao olhar pela janela vê um bêbado a dormir no banco da paragem e pensa:

(Se bebesses agua não andavas assim!)

Vítor não tem vícios. Provavelmente porque também não tem dinheiro.

Já se sabe o que diz o ditado…
Não bebe. Não fuma. Não f…

…az nada que seja prejudicial para a saúde.

Como tal não percebe nada do que são cigarros, charutos, cigarrilhas, vinhos, cervejas, brandys, digestivos, etc.

Também não lhe faz falta perceber.

Pensa ele.

Vamos descobrir porquê!


Chegando ao trabalho, Vítor nota que algo de estranho se passa.
Há qualquer coisa que não está bem….

Colegas todas vestidas de igual… tudo normal, na galhofa.
Segurança pançudo com cara de poucos amigos… tudo certo, no controle.
Chefe desconfiado com cara de arrogante… como sempre, à escuta.
Balcão dos embrulhos… na mesma, desarrumado.
Banquinha com caixas de…

(Espera aí!)
(Que raio é isto??)


Vítor defronta-se com algo que não costumava estar ali…

Era uma feira.

De quê?

Vinhos.

-Bom dia, Catarina ‘tá boa?
-‘Tou e o menino?
-Também. Então temos uma… coisa nova é?
-É verdade, é a nova feira de vinhos do Porto… Olhe já que fala nisso era mesmo de si que estava à espera. Preciso que me fique nos vinhos tá bem?
-Herr… Mas eu…
-Não tem nada que saber é só ficar ali ao pé e se alguém quiser alguma garrafa é só registar pode ser?
-Herr… Ok… tá bem…

(Epá não percebo nada de vinho do Porto, caraças…)
(Que se lixe, ao menos não devo fazer nenhum o dia todo!)

Vítor aproxima-se do amontoado de garrafas e começa a ver o que lhe espera…

(Ora bora lá fazer o reconhecimento do território…)
(Vinho do porto, muito bem, olha também há em branco, Tawny, Ruby, Reserva, dry, não sei quê, não sei que mais, grande confusão, espero é que não me perguntem nada…)

Nem teve tempo de se virar!

-Olhe desculpe!
-Herr... Sim, bom dia?
Uma velhinha de cabelo branco, mas a tender para o púrpura da laca, apontando para uma garrafa.
-Este é que é o Porto que chamam de verdadeiro?
-Bem, herr… há vários tipos de porto não é? Vai depender do gosto da senhora…
-Mas é este o original?
Vítor pega na garrafa, 7,36€, Offley Tawny Porto…
-Pois, este é um Offley é das marcas mais conhecidas…
-Pois. Deixe estar, era só para saber, não vou levar.
-Ah sim, obrigado, bom dia… (Epá não percebo um cu disto!)

(Deixa cá olhar melhor para as marcas...)

Barros, Borges, Burmester, Calem, Cockburn, Croft, Fonseca…

(Olha marcas estrangeiras, não sabia que havia…)

-Bom dia!
-Herr… sim bom dia!
-Pode-me ajudar?
-Se eu souber…
-Estava aqui a ver os Vintage e estou a achar estranho haver tantos, 1995, 1997, 1999…
-Pois… sabe se calhar hoje em dia o vintage também é mais uma nomenclatura para chamar a atenção que outra coisa qualquer…
-Não! O Vintage significa que são anos de colheitas excepcionais, estou a achar é estranho haver tantos…
-Ah sabe, é que o vinho do Porto é muito famoso e então é normal que as colheitas sejam todas boas.
(Que raio estou eu para aqui a dizer…)
-Olhe vou levar esta.
-Muito bem, excelente escolha! Tem tido muita saída este vinho.
-Ah, pensei que hoje fosse o primeiro dia da feira…
-Pois.. herr… mas nos outros anos tem tido muito sucesso. Esta marca Churchill é muito procurada e até há quem diga que o vinho do Porto feito em Inglaterra é melhor ainda que o português… Vai muito bem servido!
-Pois… Pode fazer-me um embrulho? É para oferecer…

(Ui embrulhos? Epá isso não, que eu em trabalhos manuais sempre fui um nabo!)

-Só na recepção se não se importar…

Por detrás de Vítor estava um massivo rolo de papel de embrulho bem à vista de todos menos do próprio, aparentemente…

-Então mas isso que você tem aí não é para fazer embrulhos? É que agora não me dava jeito fazer o caminho todo para trás…
-Herr… Sabe é que eu estou só a substituir o colega que costuma cá estar e não sou muito bom a fazer embrulhos…
-Não faz mal, faça como souber…


Dois metros de papel de embrulho depois, eis que o cliente se vai embora com algo que aparenta mais ser um gato morto embrulhado em jornal do que um presente.

Felizmente para a indústria vinícola da região do porto, uns minutos mais tarde o movimento aumentou e tiveram de resgatar o pobre Vítor para as caixas.


-Vítor!
-Sim?
-Abra-me a caixa 7 se faz favor!

(F******!!!!)



Conclusão: se não sabem, não respondam... :o)

Um comentário:

Anônimo disse...

intiresno muito, obrigado